Celso Roth ficou menos de dois meses (54 dias) no comando técnico do Vasco. Os números obtidos a frente do time não foram bons. Aproveitamento de 38%. Pegou o Cruzmaltino na zona do rebaixamento e dez rodadas depois o entregou na mesma posição. Mas afinal, o que acontece com o clube de Eurico Miranda? O que falta ao atual campeão Carioca para que não seja rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro mais uma vez?
Já em Porto Alegre, sua base, Roth dedicou tempo a uma rápida análise. Falou do Vasco, de Eurico, do elenco vascaíno, das suas escolhas na hora de escalar e do campeonato em si. A seguir, os principais trechos da conversa.
Supertecnico – Você ficou chateado pela demissão? Havia resquícios de 2010, quando trocou o Vasco pelo Internacional para ser campeão da Libertadores?
Celso Roth – O episódio de 2010 está completamente superado. Foi uma escolha profissional. Não envolveu paixão. Com relação a minha saída agora, claro que fiquei chateado. Havia um projeto em desenvolvimento, mas não foi como esperávamos.
Supertecnico – O que deu errado?
Roth – O Vasco vive uma situação de desequilíbrio. Os jogadores são bons, mas estão em níveis de preparação física, técnica e tática diferentes. Precisa de uniformidade e sequência para o time render, para obter resultados melhores. Isso leva algum tempo e o Vasco de hoje tem pressa.
Supertecnico – Pelo que você diz, faltou planejamento da direção?
Roth – Pode parecer que sim, mas não se trata disso. Todos sabem que o Vasco vive dias difíceis fora de campo. Na minha maneira de ver, a conquista do Estadual 2015 deu um certo lastro para o clube iniciar o Brasileiro praticamente com o mesmo elenco. Mesmo sabendo que precisava de reforços, o Vasco iniciou a competição sem eles. E começou mal.
Supertecnico – Erro de avaliação então?
Roth – Tenho para mim que não. Foi mais falta de dinheiro mesmo. No período de contratações, o Vasco ficou à margem do mercado pela menor capacidade de investimento. Os tais “jogadores que caberiam em qualquer time” ficaram inatingíveis.
Supertecnico – Mesmo sabendo de tudo isso, por que você assumiu o Vasco?
Roth – Porque o Vasco é o Vasco. E sempre vai ser. Se o Eurico Miranda, ou qualquer outro presidente liga pra você e diz: preciso da sua colaboração. Como você vai dizer que não?
Supertecnico – Eurico Miranda pediu sua ajuda?
Roth – Não foi assim. Ele me ligou e perguntou: quer voltar ao Vasco? Eu disse: claro, presidente. Acertamos alguns detalhes e marcamos a data da apresentação.
Supertecnico – Ele falou das dificuldades? Não deu opção de dizer não depois de expô-las?
Roth – As dificuldades do Vasco são públicas. O que tem de diferente é que no dia a dia você sente na pele, e luta para ajudar a resolve-las. E é isso que faz o Vasco grande. O presidente não desiste. O técnico não desiste. Os profissionais de suporte não desistem. A torcida não desiste.
Supertecnico – Você tirou tudo que podia desse time?
Roth – Dentro do quadro que encontrei, sim. Mas espero que mesmo com a minha saída renda mais. Não falta dedicação, não falta interesse. Estão todos focados no mesmo objetivo.
Supertecnico – Mesmo com episódios como os que você viveu com treinos fechados, reclamações de Martin Silva e de seu empresário (Regis Marques), a saída do Gilberto...
Roth – Treino fechado não tem objetivo de esconder nada. Apenas dá privacidade ao grupo. Evita expor o jogador em situações de trabalho, onde há discussão, xingamentos, rispidez, mas sempre com respeito. Com relação às reclamações de jogadores, isso sempre vai haver. Só que comigo não tem conversinha. É olho no olho, falando a verdade. Quanto ao empresário citado, não sei nem quem é.
Supertecnico – Também havia queixas sobre não haver uma escalação fixa, falta de padrão de jogo. Você concorda ou discorda?
Roth – Não cabe essa análise. Como disse antes, tínhamos um desequilíbrio físico, técnico e tático. Quando isso ocorre, você trabalha jogo a jogo. Antes de cada partida, vê quem está melhor e põe pra jogar. Se colocar sempre os mesmos 11 numa situação dessas, depois de cinco jogos o departamento médico estará lotado.
Supertecnico – Mas com este formato, não deu certo, afinal você foi demitido?
Roth – Tudo que fiz foi pensando no Vasco, não em mim. No período em que estive a frente do time, busquei consolidar a preparação e dar equilíbrio ao grupo. Buscamos resultados sempre, mas eles não vieram de imediato.
Supertecnico – Pra finalizar: o Vasco tem jeito? Em 2016, vai jogar a Série A ou a Série B do Campeonato Brasileiro?
Roth – Espero que a Série A. Torço por isso. Trabalhamos para isso. Pode ser que o Vasco não devesse estar no G-4, ou até mesmo nas oito primeiras posições do campeonato, mas também não era para estar na lanterna. Acredito no crescimento do time. E que o novo técnico (Jorginho Campos foi o escolhido), mantenha o trabalho que vínhamos fazendo e obtenha os resultados que não vieram na nossa gestão.
E boa sorte ao Vasco!!!